terça-feira, 6 de abril de 2010

AMÁLGAMA NEGRA, entrevista:

• Srtª. Vitória (Vicky)



01 – Nome, naturalidade e profissão?


Vitória Souza, paulistana – Analista Fiscal


02 - Orientação sexual?


Homossexual


03 – Em que momento da sua vida, você se percebeu homossexual?


Na verdade eu sempre tive um jeito BOY de ser, desde criança eu sempre corria atrás das pipas na rua com os garotos jogando futebol, era engraçado! Na escola o preconceito começou desde pequena, sempre me chamavam de “Maria Macho”, eu achei que lésbicas só existiam nos USA. Eu gostava muito das minhas amigas, e tinha uma que se destacava. Eu fazia de tudo para estar com ela, mal sabia que era amor.

Aos 12 anos, numa brincadeira de verdade ou desafio, eu beijei uma garota. Adorei! Contudo, eu mesma tinha preconceito e decidi esquecer este fato.


04 – Há poucos dias, o cantor porto-riquenho, Ricky Martin, declarou a sua homossexualidade para o mundo. Como foi a sua “saída do armário”?


Nossa, nem me diga! Tudo aconteceu no ensino médio, entrei em um colégio onde era popularmente chamado de “escola GLS”, o nome era LEOPOLDO SANTANNA era o colégio modelo rígido, logo no primeiro dia 3 garotas perguntaram-me:


- Você Curte?


Eu me assustei, só tinha beijado uma garota na vida e comecei a conviver com a realidade que lésbicas também existiam no BRASIL. (Risos)

Ao beijar uma garota dentro do banheiro, o coordenador PEGOU-me. Na outra semana, conheci o álcool, e fiquei totalmente alcoolizada.


O coordenador chamou minha mãe, contando o ocorrido e disse:


- Sua filha é SAPATÃO!


Em casa, eu tive que assumir pra família toda, minha orientação; sem ao menos saber o que de fato eu queria; foi barra! Até hoje eles não aceitam. Contudo, o respeito existe.

Desde muito cedo, tive que provar para meus pais, que ser homossexual não é sinônimo de ser “maloqueiro”, após “trair” a confiança deles, quando o coordenador contou sobre minha sexualidade, foi uma grande trajetória até que eles compreendessem que eu posso ser alguém, mesmo sendo Eu. Eles sofreram com comentários dos vizinhos, fofocas nas esquinas e diversas situações amargas. Sinto falta do apoio deles, porém, fico suficientemente feliz com o respeito. Dói em saber que não poderei trazer minha namorada em casa, e assistir um filme, como faz qualquer casal normal.



05 – Ser homossexual ainda é ser “diferente” no Brasil?


Sim, ainda é extremamente “diferente”. Nas ruas, as pessoas, olham e apontam; fazem comentários ridículos. Infelizmente a cultura brasileira consiste que o homem nasceu pra mulher. Acredito que todos nós nascemos bissexuais, e a sociedade nos induz ao heterossexualismo. Quem não sentiu atração pelo mesmo, foi pelo simples fato de não experimentar.


06 – Vicky, como é ser homossexual em São Paulo?


São Paulo subdividem-se em dois grandes pólos: nos arredores da Paulista, Consolação, República e Augusta, notamos gente cheia de vida e alegria pelas ruas; pessoas bem vestidas e cheias de charme, andando de mão dadas no Shopping Frei Canecca; é uma realidade dentro da normalidade, poucos olhares lhe incomodam, as pessoas são discretas, passo meu final de semana neste mundo, já na periferia, qualquer demonstração de homoafetividade é motivo de “comentários”. É difícil conviver nestes dois mundos.


07 – Você participa da “Paradas Gay” em sua cidade? Qual a representatividade deste evento, a meu ver, político e estético?


Comecei a freqüentar PARADAS GAYS, em meados de 2006, nesta época em São Paulo, ainda tinha como objetivo reivindicar os direitos dos homossexuais, afinal, casais Gays possuem por volta de 26 direitos a menos, que os casais heteros. Uma discriminação que já vem da LEI. Hoje, notamos que a PARADA é uma festa de rua, um carnaval fora de hora, onde há muito assalto e aglomeração. Corroeu o sentido de lutar pelos direitos e, hoje, é vista somente, como mais um evento em São Paulo.


08 – Vicky, qual o seu cotidiano em São Paulo?


Eu trabalho e faço faculdade. No final de semana, aproveito pra “FERVER”! Curtir o máximo da noite nas baladas GLS e bares por aqui, estes são convidativos, torna-se fácil passar uma noite inteira, repleta de gente igual a você! Beijar alguém sem preocupar-se com os olhos da sociedade é como voar, e libertar-se de toda pressão do trabalho.


Há diversas opções, paga gostos, bolsos e tribos; o melhor das baladas GLS é que não HÁ brigas, como nas baladas heteros de São Paulo.


09 – O vencedor do último Big Brother Brasil – BBB 10 – foi o Marcelo Dourado, que por várias vezes externou a sua homofobia no cotidiano do programa. Na casa também tinham três homossexuais: Serginho, gay assumido; a Morango, ainda no “armário” e o Dicesar, Drag Queen. Sabe-se que o Big Brother tem a sua parcela de edição – eleição dos possíveis jogadores vencedores – mas, o veredicto final, sempre vem do público brasileiro. Como vocês analisam este último resultado, configurado pela vitória (60%) do Dourado?


Pra ser sincera, não acompanhei o BBB, acredito que este tipo de programa os vencedores são pré-determinados, não gosto!


10 – “Últimas palavras”...


Na sociedade ainda há um enorme preconceito, estas doutrinas vem da origem do mundo. Para aqueles que acreditam na bíblia, desde Adão e Eva, estes padrões, infelizmente, serão levados até que as pessoas aceitem que:


O amor está ligado a pessoas, e não a sexos.


Adorei a entrevista, o Leandro é sempre muito criativo e encantador. Obrigada pela oportunidade de expressar minhas idéias!




Vicky agradeço pela honra de tê-la aqui, no Amálgama, bem como pela coragem, consciência e verdade de ser quem é – ABSOLUTA!









Leandro Rujo/ blogueiro.

leandrorujo@gmail.com

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