sexta-feira, 16 de abril de 2010



AMÁLGAMA NEGRA ENTREVISTA
 ÁLEC SARAMAGO








Meu brother e amigo de velhos carnavais é uma satisfação enorme poder bater um papo contigo e com os leitores deste humilde blog.




(A.N) Quem é Álec Saramago?



Esta pergunta é sempre difícil de responder. Surgem tantas questões filosóficas sobre o ser, o eu, estas coisas... (risos) Então eu tenho que ser prático.



Alex Freitas de Figueiredo é meu nome de batismo, mas se com certos povos antigos acontecia de mudar de nome sempre que algo incrível acontecia em suas vidas, eu mudei o meu (risos). Reconheço-me mesmo como Alec. E Saramago ainda por cima! Tem relação com a minha virada de vida, o meu encontro comigo.

Nasci em Salvador, taurino com ascendência em câncer, ao meio-dia, no mesmo dia que minha mãe nasceu! 25 de abril!



(A.N) Quando foi o seu primeiro contato com a arte?


A música gospel, na Igreja Adventista do Sétimo Dia. Cantei em corais infantis, depois num grupo importante desta denominação nos anos 90, com quem viajei pelo Brasil inteiro. Eu era bem molecão. Magrinho... E já tinha uma voz de adulto, uma coisa que o Universo me deu de presente. Depois gravei em 2001 um cd solo lançado na Concha do TCA e viajei até para fora com ele.

A Igreja foi importante para meu desenvolvimento vocal. Mas foi a vida, a estrada, o sofrimento, que me deram alma, me deram a beleza. Um paradoxo de mergulhar no lixão de si mesmo para ser feliz depois. Assim a música fez sentido. Antes era só a voz, eu era o cara triste escondido atrás do cantor, hoje o cantor é só um detalhe em minha vida.



(A.N) Em que momento da vida, você se percebeu artista?



Quando meu avô paterno começou a me pedir para cantar para ele. Eu tinha só cinco anos de idade. Ele me chamava de Canarinho. Nunca esqueço isso. E me vem lágrimas nos olhos. Saudade de tanta coisa... Eu era um menino miúdo e já sabia que era artista. Já tinha esta vida batendo no peito.


(A.N) Quem surgiu primeiro em sua vida: a música ou o teatro?


O teatro estava na música e eu não enxergava. No meu jeito de expressar com vigor, na forma de viver cada assunto com sentimento de quem já viveu tudo sem ter vivido de verdade todas as coisas. Isso é ser ator. Sentir até o que nunca sentiu. E também é lindo! E tem muita vida. E toca as pessoas lá no íntimo. Esta é a essência de ser artista.


(A.N) Quais artistas, do segmento musical e teatral influenciaram na sua carreira?


Alessandra Samadello, uma grande cantora da musica Gospel que esteve até em Hebe um tempo atrás. Maria Bethania que tem uma coisa de atriz também. Clara Nunes. Você acredita que eu sambei sem ninguém me ensinar vendo imagens de Clara na TV? Com uns cinco anos de idade ou menos.

Caetano como compositor foi sempre muito forte para mim e na voz também. E até hoje eu ouço bastante Elis. Parece clichê, mas é assim mesmo. Ah, gosto de Elba também, com aquele lance bem nordeste, mas universal.

                             
(A.N) Em quais trabalhos como ator, você já atuou?


Comecei com um grupo da UNEB, quando eu fazia Letras em Alagoinhas. Os Macabéicos. Era muito bom e louco. Um lance hapenning, teatro de improviso, mas com idéias filosóficas muito bem construídas. Ficamos duas temporadas no Teatro Vila Velha e me orgulho disto. Fomos muito elogiados pelo ator Jackson Costa, pelo Márcio Meireles, mas a galera estava numa viagem diferente da minha, queriam tudo muito sem prumo e acabamos terminando o grupo. Uma pena, porque já estávamos para viajar pelo nordeste.  
Depois fiz uma participação muito legal numa ópera carioca que esteve um tempo aqui na Bahia e foi minha primeira vez no Teatro Castro Alves.

Hoje estou na Cia Beluna de Arte. Com esta companhia eu fiz “Perdidos”, adaptação de “Dois perdidos numa noite suja” de Plínio Marcos e a “Tigela”, com a qual rodamos pelas escolas. Temos tido bastante sorte oferecendo oficinas e também nos envolvendo em trabalhos sociais, que é um lado do teatro que tem uma saída muito boa. Já conquistamos diversos editais do estado e isso é importante para dar continuidade ao trabalho.


(A.N) Como se não bastasse à música, o teatro e a literatura, você está se formando em Museologia pela Universidade Federal da Bahia. A Museologia seria de fato mais uma paixão em sua vida?


Descobri que ela tem muita relação com a arte, a produção intelectual humana, a beleza das coisas criadas por nós. Estudo muita História da arte, Antropologia, Arqueologia. Imagina, é bom demais! E só confirma a minha vocação de artista.

Um professor meu que me adora enquanto aspirante a acadêmico, me dizia para eu deixar a arte para lecionar, pois eu seria um grande professor. Então um dia eu o convidei para me assistir no teatro. Assim que a peça terminou, ele veio até a mim no camarim e, disse, me abraçando: Continue na arte!

Nunca mais eu pensei em outra coisa!


(A.N) Alec, eu acompanho a sua carreira de cantor há pelo menos seis anos. Você sabe o quanto admiro o seu trabalho, a sua maneira peculiar de dialogar e conceber a música para além da fama; numa espécie de relação indivisível. Você que já viajou para a Austrália, Estados Unidos, que já esteve ao lado de grandes nomes da música popular brasileira, como Maria Bethânia, Gilberto Gil e tantos (as) outros (as), como você analisa o cenário da música brasileira hoje?
                                                                                                             
Muita coisa ruim, muita coisa boa. Sempre foi assim e sempre será!

Sou como Caetano. Encontro pérolas em todos os cantos. O Carnaval, por exemplo, tem coisas muito boas. Exemplo disto é a Daniela Mercury, Margareth Menezes, Timbalada, Carlinhos Brown.

Mas na verdade acho que tudo é um problema de educação formal. Se um povo não possui escolaridade suficiente, como vai poder ouvir algo que nem entende? Existem também outras questões de poder envolvidas e nisso eu não quero entrar aqui.
A verdade é que o publico que gosta de Carnaval, mas que curte Daniela Mercury, por exemplo, é

uma turma mais refinada em seu gosto. Então parece mesmo que para se gostar de música bem elaborada, precisa-se de um conteúdo intelectual bem aparelhado. Isso faz com que o consumo de musica de primeira seja algo real. Então se o rumo intelectual do país esta em derrocada, isto fica evidente na musicalidade de seu povo.


(A.N) Eu acompanhei o seu sucesso no carnaval baiano de 2010. Foi a sua estréia? Qual a sensação de cantar na Bahia, sobretudo, no maior carnaval do mundo?


Foi minha estréia no Carnaval de Salvador, sim. Um momento importante para eu saber bem o que quero fazer da minha vida musical. E eu percebi que não desejo seguir a “boiada” mesmo. Tenho uma personalidade musical bastante forte e bem formada e precisei subir no trio em plena avenida para entender isso de uma vez. Não quero isto de colocar o dedinho na boca e ir ate o chão somente. É muito pouco. O que quero é produzir arte genuína no meio da folia. Porque eu amo a folia. Mas acredito que é possível fazer coisas melhores do que se tem feito.

                    
(A.N) Como já foi dito, você que já viajou o Brasil e também alguns países, fazendo shows, campanhas e projetos,  por que escolher morar em Salvador e cantar a Bahia?


Foi algo natural. As oportunidades aconteceram aqui. Teve o I Festival Universitário no qual interpretei a música campeã, a relação boa com o teatro Vila Velha, as participações com a banda Maria Juaquina, e meu envolvimento com a Cia Beluna de arte a qual hoje pertenço. Além disso, eu amo Salvador. Ainda tem uma coisa praieira.


(A.N) Conte aos leitores do Amálgama, quais os seus projetos atuais e futuros?


A Cia Beluna esta dando um salto importante com sua legalização. O que no teatro é algo raro. Estamos em vias de geração de CNPJ, ocasionando uma valorização do trabalho e uma profissionalização que é essencial para alcançar patamares mais altos. Nossos projetos sociais irão dar uma guinada com isto por exemplo.

Na musica tem coisa boa sendo planejada. Um show só meu. Uma homenagem às mulheres. Mas vai ficar para o segundo semestre. Ando devagar porque já tive pressa...


(A.N) Alec Saramago por Alec Saramago? E o que te faz um ser humano ABSOLUTO?


Um homem com uma garra imensa, que acorda cedo e já salta da cama feliz, mexendo com todo mundo!
O amor próprio, muito presente, conquistado na raça e na psicologia é que me dão isto. Eu sou um “caçador de mim”.


(A.N) “Últimas Palavras”...


Muita vida para todos! Amem a vocês antes de amar a qualquer coisa. Assim o amor pelo outro acontece. Por que atraímos aquilo que temos em nós. Se temos amor, teremos amor sempre! Hare Krsna!

Ah, e visitem o blog mais vezes. Léo é uma figura!

Também podem me ver no “youtube” colocando meu nome ou banda Maria Juaquina. Tem também um documentário interessante, chamado Folhas e Rezas. Quero que conheçam. Além do site www.beluna.com.br



Negão, eu agradeço pela sua participação e disponibilizo, desde já, este espaço para divulgar o seu trabalho sempre que você desejar. Um forte abraço do velho amigo, Léo Rujo.



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